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quarta-feira, 28 de julho de 2010

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Um pouco de Sócrates
O sábio que só sabia que nada sabia

“Conhece-te a ti mesmo.”

Muitos até percorreram pelo ainda hoje tão pesquisado mundo da mente humana, suas individualidades, seus mitos, seus conceitos e devaneios, más ninguém como Sócrates insistiu tanto na necessidade de auto-conhecimento.
Advertia ele que era preciso elevar-se dos sentidos à unidade conceitual, racional, alcançar o que normalmente não se propunha a pensar, Sócrates ensinou a procurar o princípio da verdade, distinguir aquilo que é impressão dos sentidos, o que está impregnado com o nosso arbítrio, com a nossa instabilidade de humores, tudo, enfim, que nos é subjetivamente próprio do que é produto da razão, onde encontraremos conhecimentos universais, iguais para toda a humanidade.
Saber e colocar em prática esse saber foi para Sócrates uma só e mesma coisa, como ciência e virtude, pois esta nada mais é do que a aplicação daquela.

À virtude (aretê) Sócrates identificou o conhecimento, mas esse conhecimento não é a opinião (doxa), e sim a ciência (episteme). E a verdadeira ciência não será aquela que tem por objetivo a obtenção de prestígio social ou de riquezas materiais, mas a que leva ao conhecimento de si mesmo, de sua própria subjetividade. Para o mestre filosófico isto era um “tesouro”.

Sócrates advertia que não seria buscando o acúmulo de bens e as honrarias sociais que o homem alcançaria a virtude, mas, ao revés, era ao alcançar a virtude que o homem obteria riquezas - inclusive a material.

É com Sócrates que a Ética, propriamente dita, começa. E ele a operou em seu dia-a-dia: ensinou a respeitar as leis, as escritas e as que, mesmo não escritas, são válidas em todos os lugares, pois impostas pelos deuses aos homens. Defendeu que o bom cidadão deve obedecer mesmo as leis más para que com a sua desobediência os maus não se sentissem liberados a violar as boas leis.

Contrariamente, o contemporâneo ensinamento sofístico se limitava a uma mera técnica argumentativa, que facilitava a ascensão na vida política de quem já dispunha de poder econômico - pois só estes podiam pagar as suas caras lições. A conseqüência desta era que as decisões políticas na Assembléia ateniense eram tomadas não com base num saber, ou na consideração dos sábios, mas no poder de persuasão dos hábeis em retórica, que raramente seriam os mais sábios ou os mais virtuosos.

Os sofistas, portanto, não ensinavam o caminho para o conhecimento que leva à verdade única; o seu ensinamento estava voltado para a obtenção de um consenso, que resultaria da persuasão.
Sócrates, de forma gratuita, levou a filosofia para a praça pública. Aí, onde os atenienses se reuniam, comerciavam, realizam assembléias populares, cerimônias religiosas e também se administrava a justiça Sócrates dialogava, transformando o simples cotidiano num grande anfiteatro para a busca interior.

Escolhia para seus interlocutores aqueles que ainda possuíssem condições psicológicas favoráveis para serem submetidos à ironia e à maiêutica. A ironia era o momento dentro do diálogo em que interlocutor era levado a opinar e provar que realmente dominava o ramo de conhecimento ou de atividade do qual era tido como autoridade.
Geralmente Sócrates decepcionava-se, pois, levados a emitir opiniões acerca de sua própria especialidade e, posteriormente, interrogados sobre o significado das palavras por ele empregadas o que ficava patente era tão-somente a ignorância da própria ignorância. Muitas idéias vigentes há séculos e consagradas pela tradição, que orientavam a conduta dos indivíduos e serviam de alicerces às instituições políticas também revelaram-se formadas por superstições, intolerâncias, opiniões desprovidas de ponderação, que desconsideravam os fatos que as contestavam.

Reconhecido que se ignorava o que, antes, se supunha saber; demolidas as falsas idéias que alicerçavam a falsa imagem que as pessoas tinham de si mesmas, o diálogo socrático assumia caráter de reconstrução com a fase subseqüente chamada maiêutica, ou parturição das idéias, onde o interlocutor-discípulo era levado, através da propositura hábil de questões, a progressivamente tentar conceber dar, ele mesmo, à luz suas próprias idéias: assim, indo ao seu próprio encontro, o homem faria de si mesmo o seu próprio ponto de partida.
Abandonava-se, assim, a repetição inconsciente de fórmulas consagradas, chavões tradicionais e se era convidado a pensar tanto no sentido de refletir, raciocinar; quanto no sentido de - curar a alma. Sócrates, ao exercer a sua atividade pedagógica de forma gratuita e ao não levar em conta fatores sociais ou econômicos, deixando-se guiar tão só pelo seu daimon no processo de escolha de seus interlocutores, democratizara a sua pedagogia. Ao submeter um escravo à maiêutica de uma intrincada questão matemática, Sócrates demonstrou, publicamente, que o homem, mesmo sob o jugo de condições sociais e políticas que lhe são impostas pela classe que se auto privilegia se submetido a um processo educativo adequado era capaz de compreender e deslindar questões científicas complexas.
Sócrates prova assim, que um escravo é, pelo menos na alma, igual a qualquer cidadão e que todos os indivíduos, de direito, intrinsecamente se assemelham.
Numa democracia como a ateniense, onde ser cidadão era ser um homem pleno e livre, era possuir direitos e garantias sobre sua própria individualidade e seus bens; mas que só concedia esse privilégio da cidadania a quem apresentasse certos atributos e características, como ser homem, filho de pai e mãe atenienses, e, principalmente não ser mulher, não ser criança, não ser louco, não ser estrangeiro, não ser escravo enfim, não, não ser nada de diferente, nada de estranho.
Numa sociedade em que, segundo o censo de Demétrio de Falera: 20.000 eram cidadãos, 10.000 eram metecos (estrangeiros e seus descendentes) e 400.000 eram escravos, Sócrates passou a representar uma denúncia de suas limitações e injustiças e um perigo para os interesses daquela minoria que detinha o poder e excluía a maioria da população dos privilégios.

É por passar a ser visto como um ameaça que Sócrates, em 399 a.C., sofre, por parte de alguns cidadãos atenienses, grave acusação: não reconhecer os deuses do Estado, introduzir novas divindades e corromper a juventude.

A acusação de ter introduzido novos deuses só foi possível porque Sócrates se dissera inspirado por uma divindade que outra não era senão sua própria consciência. Quanto à acusação de corromper a juventude, Sócrates demonstra na sua defesa que o seu acusador nunca esteve com essa questão preocupada e nem mesmo sabia identificar o que seria bom ou mau para a juventude.

Durante o julgamento Sócrates demonstra publicamente a inconsistência de tais acusações que, inegavelmente, tinham razões políticas, pois o que as determinaram foram às críticas ao que ele creu ser um desvirtuamento da democracia; as discussões e questionamentos feitos durante os diálogos socráticos sobre virtudes, valores morais, senso comum, crenças e opiniões, nos quais, tanto indivíduo quanto instituições políticas se aferravam.
Afora isso, ao desmascarar falsas sapiências e esboroar supostos talentos e prestígios indevidos Sócrates despertou ressentimentos e desencadeou a ira daqueles que queriam manter o status que, pensando que assim manteriam sua própria estabilidade.
Embora a filosofia tenha surgido na Grécia precisamente por ter o pensamento mítico perdido o seu poder explicativo, por terem os mitos gregos se mostrado relativos quando defrontados com os de diferentes povos, a ruptura com o modo mítico de pensar não se fez de modo abrupto nem definitivo. Sabemos que, em pleno século XXI, superstições, crenças, fantasias sobrevivem no imaginário dos povos.
A ignorância prejudica julgamentos e distorce a visão dos fatos. O homem ignorante interpreta as admoestações do sábio como arrogâncias e vê em seu opressor um libertador. Elege este como seu líder enquanto daquele pede a morte.

Podemos identificar na vida dos mais sábios e destemidos pensadores como Sócrates e Jesus - que, não raro, a ignorância espera que eles, que se propuseram a nos ajudar a nos libertar desses falsos valores, devam se declarar culpados e pedir desculpas por isso! Sócrates, ao fazer sua defesa, frustra essa expectativa: ironiza seus acusadores, manifesta-se com altaneira independência de espírito, sem bajular ou tentar captar a misericórdia dos que os julgavam o que é interpretado como... Arrogância. Mas sua linguagem é, em verdade, serena; se, objetivamente, não se defende é porque não reconheceu em si e em seus atos nenhuma culpa.

Recusa-se a fazer-se absolver através de rogos e súplicas: o que parece-lhe justo é tentar esclarecer e convencer o juiz. Precisamente por fazer sua autodefesa de forma destemida, mantendo sua independência de espírito Sócrates é condenado. Convidado a fixar sua pena, ele o faz, mas de modo a impedir que os que o acusam falsamente tentem passar para a história como magnânimos ao consentir na continuação de sua existência. Nem exílio, nem multa ou qualquer outra pena moderada: propõe ser sustentado no Pritaneu, o que equivaleria não só ao reconhecimento de sua inocência, como o de ser benéfica e regeneradora a sua atividade pedagógica.
Encurralando os juízes entre sentenciá-lo à morte ou recompensá-lo como herói ou benemérito da cidade, Sócrates oferece uma derradeira lição: a de que o caminho para a verdade e a justiça exige humildade e coragem: humildade para reconhecer os erros e coragem para corrigí-los. Mas alguns tipos de ignorância raramente se apartam da prepotência, da arrogância e da covardia. Deste modo, tornou-se impossível para aqueles juízes admitir ser inocente quem realmente o era.

“A acusação de ter introduzido novos deuses só foi possível porque Sócrates se dissera inspirado por uma divindade que outra não era senão sua própria consciência”


Pelas ruas de Atenas, envolto num áspero manto, com pés descalços e cabeça descoberta, vagava Sócrates distribuindo sabedoria. Era um homem fisicamente feio, mas manso e dócil como um santo. Tinha a profissão de escultor que pouquíssimas vezes exerceu, pois preferia esculpir sábias palavras.
Pouco se preocupava com as dificuldades financeiras de sua família. Cuidava dos negócios alheios e esquecia os seus. Nas infreqüentes visitas que fazia à casa de sua mulher Xantipa era recebido com tempestades de palavras ásperas que sabiamente ignorava. Sua maior ambição era ser benfeitor da humanidade. Sua bondade era tão grande quanto sua sabedoria. Desejava ver a justiça social ser exercida em todo o mundo. Em Atenas era odiado e amado. Os políticos detestavam encontrá-lo para não terem de responder perguntas embaraçosas. Para sua esposa Xantipa era um preguiçoso, mas para os jóvens atenienses era um deus. Estes adoravam ir ao seu encontro para escutá-lo cheios de admiração. Para transmitir saber êle costumava instigar o pensamento de seus interlocutores sem jamais responder diretamente suas perguntas.
Sócrates sentia especial prazer em chamar a atenção para aqueles que pensavam uma coisa e diziam outra e também aqueles que diziam ser sábios quando na verdade não passavam de tolos ignorantes. Costumava chamar a si mesmo de "moscardo" (moscão). Tinha a habilidade de estimular as pessoas a pensar. Outro apelido que costumava dar a si mesmo era de "parteira intlectual", porque auxiliava as pessoas a dar nascimento às suas próprias idéias, incentivando o uso do próprio pensamento. Com muita insistência afirmava que nada sabia. Dizia: "Sou o homem mais sábio de Atenas porque sei que nada sei".
Toda a essência do ensinamento de Sócrates pode ser resumido nas seguintes palavras: "Conhece-te a ti mesmo". Ele tentava sempre aprender com todos e neste processo, ensinava a seus mestres. Costumava dizer que o saber é uma virtude; que os homens cometem crimes porque são ignorantes, não conhecem outra coisa melhor. Diferentemente do filósofo Lao-tze, acreditava que o melhor remédio para o crime é a educação. O objetivo maior de sua vida era ensinar os outros. Infelizmente, dizia ele, nem todos queriam ser aducados.
Um dia, ao chegar ao mercado para seu costumeiro debate filosófico, deparou-se com um aviso colocado na tribuna pública que dizia: "Sócrates é criminoso. É ateu e corruptor da mocidade. A pena de seu crime é a morte".
Foi preso e julgado pelos políticos cuja hipocrisia costumava denunciar nas praças públicas. Ao ser interpelado pelos juizes, recusou-se a defender-se dizendo que sua obrigação era sempre falar a verdade. Os juizes o consideraram culpado. Quando lhe perguntaram qual devia ser sua punição, ele sorriu sarcasticamente e disse: "Pelo que fiz por voz e pela vossa cidade, mereço ser sustentado até o fim de minha vida à expensas públicas". Foi condenado à morte.
Durante trinta dias foi mantido numa céla funerária. Mesmo diante da morte permaneceu calmo, discutindo tranqülamente o significado da vida e o mistério da morte.
Críton, o mais ardente dos seus discípulos, entrou furtivamente na cela e disse ao mestre: Foge depressa, Sócrates!
-Fugir por que? Perguntou-lhe.
- Ora, não sabes que amanhã te vão matar?
-Matar-me? A mim? Ninguém me pode matar!
-Sim, amanhã terás de beber a mortal taça de cicuta - Insistiu Críton. - Vamos, foge depressa para escapares à morte!
-Meu caro amigo Críton - respondeu-lhe - que mau filósofo és tu! Pensar que um pouco de veneno possa dar cabo de mim...
Depois puxando com os dedos a pele da mão, Sócrates perguntou: -Críton, achas que isto aqui é Sócrates?
E, batendo com o punho no osso do crânio, acrescentou: - Achas que isto aqui é Sócrates?... Pois é isto que vão matar, este invólucro material, mas não a mim. EU SOU A MINHA ALMA. Ninguém pode matar Sócrates!...
E assim o mais sábio homem de todos os tempos foi obrigado acabar a vida como um criminoso.
Ao beber o veneno, quando já sentia que seus membros esfriavam, despediu-se de todos com as mesmas palavras com que se dirigira aos juizes que o haviam julgado:" E agora chegamos à encruzilhada dos caminhos, meus amigos, ides para vossas vidas; eu, para a minha morte. Qual seja o melhor dêsses caminhos, só Deus sabe".
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Quando os homens julgam erradamente seu próximo, a história julgará os julgadores.


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A MORTE DE SÓCRATES publicado 19/04/2009 por Nicéas Romeo Zanchett em http://www.webartigos.com



Fonte: http://www.webartigos.com/articles/16891/1/A-MORTE-DE-SOCRATES/pagina1.html#ixzz0uzAleFwV

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